Favela não vai se calar

Nós do coletivo Favela em Foco estamos profundamente atordoados com a notícia do assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, nascida e criada na Maré. Todos aqui acompanharam o trabalho dela de alguma forma. Alguns de nossos amigos trabalharam diretamente com ela. Mas todos sabiam da importância de ter alguém como Marielle, alguém da favela, mulher, negra, no centro do debate político da cidade.

O trabalho de Marielle nunca se restringiu ao gabinete, como mostra sua última denúncia de domingo, a respeito do abuso policial da 41a DP em Acari. Mandaram moradores para a vala como indigentes. E agora, seja de qual autoria for, mandam Marielle para o silêncio. Só não foi “pra vala” porque se trata de uma vereadora conhecida e porque aconteceu no Centro da cidade.

No Centro da cidade. Se um crime hediondo desses acontece no Centro, é importante pensar o que não acontece nas favelas. Foi a mensagem de Marielle com a sua denúncia. O que a imprensa não vê, ou escolhe não publicar, não quer dizer que não acontece.

Nós, do Favela em Foco, buscamos ressaltar a beleza do cotidiano na favela, já que de imagens de armas o jornal está cheio, sempre associando os espaços populares à violência. Mas não é possível ficarmos quietos perante um fato desses. Trata-se de um cotidiano absurdo mas real: mais uma moradora de favela que se despede do mundo. A luta de Marielle remete a todas essas mortes do dia a dia, que a imprensa nem se dá o trabalho. Quando muito, publica como nota.

Quem trabalha na luta pelos direitos humanos na cidade do Rio de Janeiro estará de luto hoje. Marielle toca a todos nós que batalhamos por uma cidade mais justa. Marielle, presente.

Foto: Elisângela Leite

Sobre Coletivo Favela em Foco

A história Tudo começou no ano de 2007 na favela do Jacarezinho, depois de jovens da comunidade experimentarem uma oficina de fotografia dada por Fabio Caffé e Rovenna Rosa, fotógrafos da agência fotográfica Imagens do Povo, do Observatório de Favelas. Oficina essa que fez despertar o olhar dos jovens, e assim decidiram se reunir para criar uma mídia alternativa. Documentando o dia a dia da favela do Jacarezinho, no conceito de cultura/arte e a falta delas. O projeto era financiado pelo Cenpec e o Itaú Social, nos quais disponibilizavam verba para a condução do projeto. O projeto era feito na Ong Saúde e Cidadania, na favela do Jacarezinho. Onde os jovens criavam pautas, com a intenção de criar uma revista, que seria distribuída sem custo algum aos moradores do Jacarezinho, e as comunidades próximas, além dos colégios, ongs, empresas próximas. O projeto foi batizado de “Jacarezinho em Foco” e foi criado justamente para levar informação verdadeira de um cotidiano de vida muito pouco explorado. E que essa informação fosse distribuída por outros meios de comunicação (vídeos, blogs, sites de relacionamento). Com a proposta real de mudar o estereotipo que ainda se tem da favela, e que os temas abordados nas pautas sejam vistos com mais sensibilidade. Mostrando para quem quiser ver que na favela existe sim, gente que faz e acontece, tem suas dificuldades como em qualquer outro lugar, mas vive com harmonia e felicidade no local onde nasceu, cresceu, que vive onde vive por opção, e não por necessidade. Eram 6 pautas abordadas, cada qual com sua peculariedade de informação. Os jovens se organizavam para ir nas casas das pessoas, e assim se familiarizando com os moradores da comunidade. Sendo que, depois de 2 meses de projeto e 1 edição criada, o projeto infelizmente não teve continuidade. Já que os financiadores não permaneceram devido a cláusulas no contrato onde se dizia que o financiamento só seria feito no inicio do projeto, e que logo em seguida deveria ser tocado sozinho. Ou seja um auto sustentamento no qual não foi pensado na criação do projeto. Assim sem verba, alguns do jovens do Jacarezinho disperçaram um pouco, outros por necessidade precisaram sair para arrumar emprego. Infelizmente não foi dado continuidade, mas os jovens que permaneceram focados no que queriam, não desistiram. E no ano de 2009 os poucos jovens que ainda sonhavam com o projeto, se inscreveram na escola de fotógrafos populares por intermédio do antigo e até então professor e fotógrafo Fábio Caffé. Assim foi se reascendendo a chama mais uma vez pela fotografia. Assim, sabendo da dificuldade de divulgação do até então “Jacarezinho em Foco”. O professor Fábio Caffé deu uma forcinha, e informou a revista Viração, lá de São Paulo sobre o trabalho que tais jovens haviam feito. Logo depois de 1 mês depois da conversa... surgiu o interesse da redação da revista de divulgar uma galeria de fotos dessa galera na edição. Bem, feito isso os jovens começaram a criar esperanças mais acessas novamente. E, começaram a se reunir junto com outros integrantes da escola, inclusive fotógrafos formados da própria escola, para dar continuidade no projeto. Enquanto os jovens começavam a se reunir para o que de verdade gostariam de fazer... Alguns exemplares foram enviados e apresentados aos alunos da escola de fotógrafos populares, em sala de aula. Foi ae que a emoção tomou conta de todos, e de principalmente dos jovens participantes do “Jacarezinho em Foco” era uma parte do sonho sendo realizado. O que serviu de estímulo para a galera, e depois de algumas reuniões foi criado o até então, Coletivo Multimídia Favela em Foco.
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