“Vidas que não podem virar cinzas”

texto: Chapolim e Gizele Martins

Por volta de 15h e 40 min da tarde de 26 de abril de 2010, o pior aconteceu para aproximadamente 548 microempresários. Todos eles perderam suas lojas e mercadorias em um incêndio que teve no mercado popular da Central, o camelódromo, que fica entre o Terminal Rodoviário Américo Fontenelle e o cartão postal da cidade, o Relógio da Central. Quatro carros de bombeiros foram até o local, mas nada fizeram.

O dono de uma das lojas, Marinaldo Correa, conta que tudo começou com o derretimento da mangueira de gás da padaria, pois entrou em contato com um curto circuito. O comerciante estava dentro de sua loja, que fica bem ao lado da primeira loja que pegou fogo. “As paredes eram de madeira e os fios elétricos pegaram fogo fácil. As mercadorias das lojas eram também de produtos derivados de petróleo como: tênis, bolsas, plásticos em geral, não tinha muito o que fazer”, conta. Marinaldo fala também sobre a falta de estrutura dos bombeiros. “A primeira viatura dos bombeiros deu problema e não tinha água. A segunda, a terceira, a quarta e nada! A gente teve de ir pedir auxílio no quartel do Exército. É um acidente que acontece e o governo se aproveita para negar apoio e facilitar seus planos”, desabafou.

Para ele, o socorro foi dificultado, pois o projeto de revitalização visa transformar aquela região, ampliar o terminal e colocar um shopping ali como no incêndio de Madureira. “São trabalhadores simples que estão aqui há mais de 30 anos. Só eu estou aqui há 15 anos e emprego pessoas da favela da Maré, do Morro da Providência, descendentes de nordestinos. Todos humildes. O que eles irão fazer pra comer, pra sustentar suas família, vão ter que roubar? Não, isso não pode acontecer, essas vidas não podem virar cinzas”, conclui indignado.

Outro micro empresário, seu Beto “Gaúcho” diz que tudo foi perdido. “Eu pago meus impostos. No total são 25 mil por mês e não se oferece o mínimo de infra-estrutura, segurança ou qualquer outro apoio. As lojas foram saqueadas e a guarda municipal não impediu que pegassem nossas mercadorias. Foi muito ruim ver tudo pegando fogo”, disse seu Beto. No total 348 lojas Box foram perdidas e não se tem ideia de quanto se perdeu em mercadoria. Além disso, vidas que dependiam desse lugar como um modo de vida, de sobrevivência, se perdeu.

A pergunta que fica é o que vai ser de todos esses trabalhadores e o que vai se transformar esse lugar…Um mercado popular ou Shopping Center?

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Sobre Coletivo Favela em Foco

A história Tudo começou no ano de 2007 na favela do Jacarezinho, depois de jovens da comunidade experimentarem uma oficina de fotografia dada por Fabio Caffé e Rovenna Rosa, fotógrafos da agência fotográfica Imagens do Povo, do Observatório de Favelas. Oficina essa que fez despertar o olhar dos jovens, e assim decidiram se reunir para criar uma mídia alternativa. Documentando o dia a dia da favela do Jacarezinho, no conceito de cultura/arte e a falta delas. O projeto era financiado pelo Cenpec e o Itaú Social, nos quais disponibilizavam verba para a condução do projeto. O projeto era feito na Ong Saúde e Cidadania, na favela do Jacarezinho. Onde os jovens criavam pautas, com a intenção de criar uma revista, que seria distribuída sem custo algum aos moradores do Jacarezinho, e as comunidades próximas, além dos colégios, ongs, empresas próximas. O projeto foi batizado de “Jacarezinho em Foco” e foi criado justamente para levar informação verdadeira de um cotidiano de vida muito pouco explorado. E que essa informação fosse distribuída por outros meios de comunicação (vídeos, blogs, sites de relacionamento). Com a proposta real de mudar o estereotipo que ainda se tem da favela, e que os temas abordados nas pautas sejam vistos com mais sensibilidade. Mostrando para quem quiser ver que na favela existe sim, gente que faz e acontece, tem suas dificuldades como em qualquer outro lugar, mas vive com harmonia e felicidade no local onde nasceu, cresceu, que vive onde vive por opção, e não por necessidade. Eram 6 pautas abordadas, cada qual com sua peculariedade de informação. Os jovens se organizavam para ir nas casas das pessoas, e assim se familiarizando com os moradores da comunidade. Sendo que, depois de 2 meses de projeto e 1 edição criada, o projeto infelizmente não teve continuidade. Já que os financiadores não permaneceram devido a cláusulas no contrato onde se dizia que o financiamento só seria feito no inicio do projeto, e que logo em seguida deveria ser tocado sozinho. Ou seja um auto sustentamento no qual não foi pensado na criação do projeto. Assim sem verba, alguns do jovens do Jacarezinho disperçaram um pouco, outros por necessidade precisaram sair para arrumar emprego. Infelizmente não foi dado continuidade, mas os jovens que permaneceram focados no que queriam, não desistiram. E no ano de 2009 os poucos jovens que ainda sonhavam com o projeto, se inscreveram na escola de fotógrafos populares por intermédio do antigo e até então professor e fotógrafo Fábio Caffé. Assim foi se reascendendo a chama mais uma vez pela fotografia. Assim, sabendo da dificuldade de divulgação do até então “Jacarezinho em Foco”. O professor Fábio Caffé deu uma forcinha, e informou a revista Viração, lá de São Paulo sobre o trabalho que tais jovens haviam feito. Logo depois de 1 mês depois da conversa... surgiu o interesse da redação da revista de divulgar uma galeria de fotos dessa galera na edição. Bem, feito isso os jovens começaram a criar esperanças mais acessas novamente. E, começaram a se reunir junto com outros integrantes da escola, inclusive fotógrafos formados da própria escola, para dar continuidade no projeto. Enquanto os jovens começavam a se reunir para o que de verdade gostariam de fazer... Alguns exemplares foram enviados e apresentados aos alunos da escola de fotógrafos populares, em sala de aula. Foi ae que a emoção tomou conta de todos, e de principalmente dos jovens participantes do “Jacarezinho em Foco” era uma parte do sonho sendo realizado. O que serviu de estímulo para a galera, e depois de algumas reuniões foi criado o até então, Coletivo Multimídia Favela em Foco.
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6 respostas para “Vidas que não podem virar cinzas”

  1. Alexandre disse:

    Galera, parabéns por manterem o pique e a qualidade das postagens. É isso aí!!!!

  2. Thiago Carminati disse:

    A matéria ficou muito boa e a sacada que tiveram de relacionar esse fato com o que aconteceu em Madureita foi perfeita!!! Abraços e vida longa ao Favela em Foco

  3. Ratao Dniz disse:

    VALEU GALERAAAAAAAAAAAAA, foda mais este acontecimento eiii. Parabens pela dedicaçao d tds pelo coletivo

    Vamos q vamos. Ficaram fodas as imagens de mais um episodio d mais uma triste historia vividas pelo povo

    Beijos e fortes abraços solidarios
    Ratao Diniz

  4. Otimaaa matéria coberta pelos integrantes do FF

    estão de Parabéns.

    Textos e Fotos !

  5. Davi Marcos disse:

    Material muito bom, grande sensibilidade e aproximação, é nós.

    Grande abraço para tod@s

    Davi Marcos

  6. Adriano disse:

    “Tristeza não tem fim felicidade sim…”

    Vamos continuar na luta contra-hegemônica.

    Abraços fratenos para todos!
    AF Rodrigues.

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